Viajar sozinho


A maioria de nós contenta-se com uma saída com os amigos ao fim de semana, ou utiliza a moto para as viagens de casa para o trabalho. Outros utilizam a moto para fazer um fora de estrada ou um trackday de vez em quando. Mas com o surgimento das redes sociais, são muitos os viajantes a solo que partilham a sua experiência, o que nos faz sonhar por uma viagem do mesmo género. 

Já fiz uma (pequena) viagem durante 7 dias em Portugal. Foram pouco mais de 2300 km no total, em que experimentei o "estar sozinho só com a moto e a estrada". Se valeu a pena? Sem dúvida que sim. É claro que essa viagem não é nada, se compararmos com as viagens de 20.000 km que a Gracinda Ramos faz todos os anos, por exemplo.

O objetivo deste artigo é partilhar algumas dicas que segui para que uma viagem a solo se torne numa experiência a repetir.

Planeamento


Já escrevi sobre como planear uma viagem. Mas o planeamento ainda é mais importante quando vamos sozinhos. Ele ajuda-nos a prever algumas das condições que vamos encontrar. Mas não convém planear demais, até porque vai aparecer uma estrada, um miradouro ou o nome de uma terra que nos vai levar a encontrar algo que não sabíamos que existia.
No meu caso, planeei alguns locais que gostaria de ver, estradas onde queria passar e os sítios onde ia dormir. O resto era em modo free style.

Algumas ferramentas (grátis) que utilizo: 
  • o google maps para conhecer o percurso
  • o HD rideplanner para ir construindo o percurso em KML (permite salvar o percurso)
  • o GPS visualizer para converter o KML para outros formatos
  • o booking, o hostelbookers ou as pousadas da juventude para marcar as dormidas (em zonas mais interiores, faço também uma pesquisa pelos sites das câmaras municipais, para encontrar pensões ou outros sítios para dormir mais em conta)
  • o Roteiro Campista também uma ferramenta útil para quem quer ir "de tenda às costas"



A moto

Há quem defenda que as motos trail ou as turísticas serão as mais indicadas para este tipo de viagens, por permitirem algum conforto e proteção aerodinâmica. Mas a rebater esta ideia, encontramos pela web vários motociclistas que fazem grandes viagens em scooters de 50 cc, 125 ou até em motos desportivas.

Tem tudo a ver com a distância que estamos dispostos a fazer por dia, da nossa motivação para a viagem e do modo como a queremos fazer.
Lembro-me de ter feito a Nacional 2 num só dia em que participaram scooters de 50 cc que chegaram antes de muitas trail.


Alterações/extras na moto

Um ecrã alto é ótimo para não nos cansarmos com o vento de frente. Outro extra podem ser os punhos aquecidos. Uma tomada USB também é importante porque assim temos sempre bateria no telefone ou para ligar um GPS. Há também quem não "goste" de ouvir o barulho da moto durante muito tempo e utilize intercomunicadores para ter música ou rádio. Algo que muito importante - sobretudo para impedir dores "no fundo das costas" - é aplicar gel no assento da moto ou uma daquelas almofadas insufláveis que se adaptam.

Obviamente que nem é preciso referir o resto: moto revista antes de viajar e pneus em ótimo estado. E se o destino for algum sítio mais recôndito, convém saber se existem lojas com pneus disponíveis, ou levar um par de pneus extra.

O nosso equipamento é mais que importante. Vai impedir insolações no verão e proteção face à chuva no verão. Não há nada pior do que quilómetros com os pés ou mãos molhadas.


Percurso


Há uma relação direta entre o tempo que temos para fazer a viagem e os quilómetros da própria viagem. Por exemplo, se o objetivo é fazer Stelvio Pass, o melhor é atravessar Espanha em autoestrada e só depois entrar em estradas de montanha, por exemplo. 

No meu caso, tentei não fazer mais de 300 km por dia. Isso permite fazer estradas secundárias, parar várias vezes para fotografias, café e comer qualquer coisa. Neste caso, opto por estradas secundárias e de montanha, obviamente.
Se a distância é superior (até 500 km), prefiro fazer metade em estradas secundárias e a outra em vias mais rápidas. 
Se o objetivo forem mais de 500/600 km por dia, então a escolha terá de recair obrigatoriamente em vias rápidas. Isto porque a pressão de chegar a um sítio leva-nos a erros e a arriscar a nossa segurança.

Há que ser flexível. Lembro-me de uma viagem em que a moto teve um pequeno problema que obrigou a 4 horas parado numa oficina. Compensar esse tempo para chegar ao hotel foi das piores coisas que fiz: cansei-me, fiz erros de condução e tinha fome (porque não queria parar para chegar ao objetivo diário). Completamente desaconselhável.


Disciplina

Parece contraditório falar em disciplina numa viagem em que o objetivo é relaxar (porque a maioria de nós faz viagens nas férias). Mas a disciplina tem de existir. Horas para começar a rolar, não ingerir bebidas alcoólicas ou pratos pesados, fazer paragens para abastecer a moto e o corpo e para esticar os músculos de vez em quando.

Resta falar da velocidade: ela é nossa inimiga. Primeiro porque diminui a autonomia da moto, logo mais paragens e mais tempo para cumprir o percurso. É inimiga da carteira, porque podemos ser mandados parar por excesso de velocidade e pagar coima. E é inimiga da nossa segurança.

No final ficam as fotografias, as memórias e o relato das viagens, para quem gosta de escrever.


Últimas notas

Dinheiro na mão. Não é preciso andar carregado, mas há sítios onde encontrar um multibanco não é fácil.
Bagagem. Sempre bem colocada, como referido neste artigo.
Água. Levar sempre uma garrafa de água. A desidratação leva-nos a más decisões em cima da moto e cansaço excessivo.
Parar. Nas viagens que faço/fiz, nunca pego na moto depois de chegar ao destino. 
Energia. Cuidado com os gadgets a mais. Carregar câmara fotográfica, telefone, action cam leva a mais bagagem e, em alguns parques de campismo, a horas em frente a uma tomada.
Toalha. Se o objetivo for dormir em parques de campismo, levar uma toalha de natação. Secam rápido e ocupam pouco espaço.


Se tiverem mais conselhos para dar, a caixa de comentários está à vossa espera. Boa viagem.




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